Estava sendo um dia horroroso. Nada atípico. Crianças brigando por bobagem pela enésima vez. Na Disney, na Universal, em casa. Tudo parecia ser motivo para disparar alguma crise de ciúmes, choro, caras amarradas e uma sensação de que não estava valendo a pena o investimento numa viagem que havia sido planejada unicamente para diverti-las. Passei a entender porque meus pais, quando viajavam, nos deixavam com nossos avós. Férias completas, inclusive dos filhos. Não ia ser diferente no Centro Espacial Kennedy. O motivo da rixa já tinha se tornado corriqueiro: qual dos dois mais velhos empurraria o carrinho do mais novo. Já não tinha ânimo nem para repreendê-los e tudo o que eu fazia há dias era contar o tempo que faltavam para nosso retorno ao Brasil.
Almoçávamos ao lado do jardim dos foguetes. Cápsulas que tinham levado homens ao espaço. Crianças não se comovem com essas coisas. A realidade virtual é mais interessante do que o mundo real. Jogar Angry Bird Space num tablet é mais atraente do que ver os foguetes do jogo em seu tamanho natural ali do lado. Minha infância, porém, foi vivida em plena corrida espacial. Meu sonho de infância era ser astronauta, comandante da primeira missão espacial brasileira à Lua. Cadernos e mais cadernos de toscos desenhos de naves espaciais. A coleção de naves espaciais do Playmobil. Ônibus espaciais de Matchbox. Talvez este seja o problema dos pais: achar que os seus gostos serão automaticamente replicados em seus filhos.
A situação deu uma acalmada. Conseguimos ver um filme e uma exposição sobre o telescópio Hubble. Fomos em paz até o ônibus espacial Atlantis. Não estava preparado para o que viria a seguir: um rápido filme sobre o projeto do ônibus espacial. As luzes se apagam. Uma porta abre-se lentamente.A ficha demora um pouco para cair. Preso por cabos, a réplica de um gigantesco ônibus espacial se revela à nossa frente. Só que não. Não é a réplica. Trata-se do verdadeiro Atlantis. Sinto o queixo pender e a respiração falhar. Os olhos se enchem de lágrimas. Quando dou por mim, todos já transpuseram a porta em direção ao ônibus e só eu permaneço ali. Uma mulher não está olhando pro ônibus, mas aponta divertida em minha direção. E eu ali, paralisado, só conseguia murmurar: "É de verdade. É o de verdade". Imponente. Impressionante. Lindo. Como eu imaginava que seria quando estivesse comandando a minha missão espacial rumo à Lua.
Fotos! Preciso registrar cada detalhe da nave. As turbinas colossais. O compartimento de carga com o braço mecânico. A cabine de comando. O escudo ablativo e suas pastilhas de cerâmica. O leme. O sonho.
Na imaginação de uma criança podemos estar jogando para um Maracanã lotado, pilotando um caça super-sônico, dirigindo um carro de Fórmula 1, sendo o médico numa cirurgia. Eu fingia ser um astronauta numa nave espacial e, apesar de nunca ter deixado a órbita da Terra rumo ao Espaço, considero que neste dia meu sonho se realizou. Eu era o astronauta em sua nave espacial.
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