No intervalo, meu pai foi comprar Coca-Cola num bar superlotado e só voltou depois de já iniciado o segundo tempo. Passado tanto tempo, o crime de abandono de incapaz já prescreveu e eu posso fazer essas revelações. A senhora que estava sentada ao meu lado me adotou enquanto eu estava lá, sozinho, e me ofereceu balas. Eu era alertado constantemente sobre o risco de aceitar coisas oferecidas por estranhos e, por isso, recusei. Como ela insistia muito, acabei aceitando e jogando-as discretamente no chão. Saímos do estádio enquanto ainda estava 4x0 e escutamos o grito da torcida do Flamengo comemorando o quinto gol no caminho para o estacionamento.
Meu primeiro jogo no Maracanã. Eu torço pelo Botafogo. |
Não foi a única roubada em que nos metemos para assistir jogos do Botafogo. Em 1992, o Campeonato Brasileiro estava ali, na nossa mão. A final era contra o Flamengo mas o Botafogo nunca havia perdido uma final contra o Flamengo. Tudo bem que entre 1962 e 1989 o Botafogo nunca havia disputado uma final contra o Flamengo. O último título do Botafogo foi em 1968 e a última final que disputou foi em 1975 contra o Fluminense. Mas era um tabu. Em 1992, o Botafogo era movido pelos recursos que o bicheiro Emil Pinheiro injetava no clube e tínhamos um bom time, a ponto de sermos apontado como favoritos. Saímos de Friburgo para assistir ao jogo num domingo à tarde e voltamos com um belo 3x0 nas costas. Contra. Na saída, a torcida eufórica do Flamengo sacudia nosso carro, parado no engarrafamento. Tivemos que tirar as camisas e fingir que estávamos super felizes com o resultado.
Júnior destruindo o Botafogo em 1992 |
- Você não é Flamengo, é?
Quando, ele disse que não, que torcia para o Grêmio, respirei aliviado.
Hoje em dia, minhas idas aos estádios são bem mais esporádicas. Fui duas vezes ao Engenhão, a primeira sob o pretexto de conhecer o estádio e, a segunda, para levar o Henrique a um jogo de futebol. Nos dois jogos que ele fez em Brasília, eu também estava lá. O último, aliás, foi ontem e, pra não perder o costume, teve perrengue. Apesar do público ser a metade da capacidade do estádio, ficamos mais de hora na fila para entrar e só fomos conseguir lugar quando o jogo já estava por iniciar.
Que jogo sofrível. Parecia que o Fred jogava com 10 Hulks pelo Fluminense contra 11 Hulks do Botafogo. Parecia que eles competiam para ver quem errava o maior número de passes. Depois da Copa do Mundo, ver o campeonato brasileiro é como ver o Brasil jogando contra o Brasil todos os fins de semana. Não que eu seja exigente. Sou Botafogo e estou acostumado com jogo ruim. Meu pai me levava ao Eduardo Guinle para assistir ao Friburguense jogar contra o Mesquita, Madureira, São Cristóvão ou Bonsucesso pela segunda divisão do Campeonato Carioca. Se o Fluminense é o quarto colocado do Campeonato Brasileiro da primeira divisão, estamos com sérios problemas.
Fred perdendo um pênalti |
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