Arquitetos modernistas não gostam de árvores. Árvores dão sombra. Sombra atrai pessoas. Pessoas poluem a visão de suas obras de artes. A arquitetura modernista é para ser contemplada. O grande mestre já dizia que a estética é o mais importante, que a funcionalidade deve ficar em segundo plano. É um pensamento bastante adequado para um país rico como o nosso. Não precisamos de bibliotecas. Precisamos de uma obra de arte cujo nome é biblioteca. Para guardar os livros, podemos construir um outro prédio em uma área que não seja tão nobre quanto a Esplanada dos Ministérios. Não precisamos de um museu. Precisamos de um prédio em forma de nave espacial cujo nome é museu. Para abrigarmos um acervo, podemos construir um outro prédio em uma área que não seja tão nobre quanto a Esplanada dos Ministérios. Interligando a obra de arte denominada museu e a obra de arte denominada biblioteca, construiremos uma praça. De concreto. Sem uma única sombra. Assim garantimos que as pessoas não a frequentarão das 10 às 17 horas. São 7 horas diárias em que as obras de arte exercerão sua função sem interferência de pessoas: serem belas.
Arquitetos modernistas gostam de carros. Um carro por pessoa é o símbolo máximo de igualdade que uma sociedade pode ostentar. É por isso que Brasília, ícone maior do modernismo brasileiro, não tem calçadas. Em uma cidade igualitária, todos têm seus carros e eles são utilizados para tudo que for possível. Até mesmo para ir na padaria da esquina. Brasilienses só são pedestres da vaga em fila dupla até a padaria e da vaga da garagem para o elevador do prédio. Se há carência de vagas, o estado há de promover a igualdade construindo um estacionamento subterrâneo na Esplanada dos Ministérios. Vamos aproveitar para remover as árvores que ousaram vingar nesse espaço. Elas dão sombra. Sombra atrai pessoas. Pessoas poluem a visão da Esplanada dos Ministérios. Ela não foi feita para ser utilizada por pessoas. Ela foi feita para ser admirada. De preferência de dentro dos automóveis.
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