Meus 12 discos

Recebi uma corrente do Face que pedia que os 12 álbuns que se mantiveram comigo de alguma forma ao longo dos anos fosse listada. Fazê-la foi razoavelmente simples mas resolvi me aprofundar e descrever as memórias que cada um deles me traz como um exercício de nostalgia.

A lista resumida é a seguinte, na ordem cronológica que eu os conheci.
  1. Beatles - Beatles for Sale
  2. RPM - Revoluções por minuto;
  3. Legião Urbana - Dois;
  4. Bon Jovi - Slipery When Wet;
  5. Pink Floyd - Wish You Were Here;
  6. Pink Floyd - Dark Side of The Moon;
  7. Midnight Oil - Blue Sky Mining;
  8. Rush - Presto
  9. The Stone Roses - The Stone Roses;
  10. Rush - Moving Pictures;
  11. The Who - Who's Next
  12. The Offspring - Greatest Hits;
A maioria deles me traz à lembrança uma pessoa que tanto pode ser quem a ele me apresentou quanto o protagonista de uma história marcante a ele relacionado.


1. Beatles - Beatles for Sale:



Era um LP "de época" da minha mãe, ou seja, a acompanhava desde os tempos que ela era solteira e fã desta que foi a primeira boy band que se tem notícia. Não é o meu álbum preferido do Beatles. Prefiro Help.

Quando o conheci, tinha parcos conhecimentos de inglês, se é que tinha algum. Por isso, sempre o cantava num embromation sem qualquer preocupação em relação ao conteúdo das letras de suas músicas. Lembro até hoje da fita cassete azulada em que o gravei e me lembro de tê-la levado para a casa de um amigo para mostrá-la. Ele foi o meu melhor amigo durante um curto período em minha infância e eu lamento bastante ter perdido o contato com ele. Foi na casa dele que eu dormi fora pela primeira vez. Seus pais eram alemães e ele possuía uma coleção de Lego Technics que me deixava babando de inveja. Anualmente eles iam visitar a família na Alemanha e, em uma das vezes, a irmã mais nova dele voltou sem falar uma única palavra de português.

2. RPM - Revoluções por Minuto:


Foi o meu primeiro vinil. Consegue se imaginar colocando o CD de Revoluções por Minuto no seu carro a caminho do trabalho hoje em dia? Pela bagatela de R$ 14,90 mais R$ 7,45 de frete você pode ter essa oportunidade. Não? Nem eu.

Quando escuto as músicas deste álbum fico me perguntando se alguém ia realmente ligar para ele não fosse a lavagem cerebral que tornou o RPM uma febre dos anos 80. Ele tocava em todas as rádios e em todos os programas de TV. A banda do +Marcelo Braune ensaiava Rádio Pirata na rua de cima todos os fins de semana. Coitados de seus pais... Em 1986 o RPM fez uma temporada no Canecão que me pareceu demorar uma eternidade

Hoje em dia, as letras de suas músicas me parecem apenas um amontoado de frases desconexas que estão lá para pontuar os gemidos do Paulo Ricardo. Saca só Rádio Pirata:

"Abordar (gemido) navios mercantes (gemido)
Invadir, pilhar. (gemido) Tomar o que é nosso (gemido)
Pirataria nas ondas do rádio (gemido)
Havia alguma coisa errada com o rei. (gemido)"

Ano passado rolou um show deles em Brasília e eu até fui lá com +Wandréa Marcinoni+João Paulo de Lima e Carol reviver aquela época. Até que foi divertido.

3. Legião Urbana - Dois:


Vamos ser francos. O Legião Urbana foi uma das poucas bandas que se salvaram dos anos 80. Na verdade, é uma das poucas bandas que se salvam no Pop Rock Nacional desde a introdução da guitarra elétrica na Música Popular Brasileira até o sucesso do Lepo Lepo no carnaval.

Alguns dos álbuns do Legião foram excepcionais: Dois, As Quatro Estações, V e O Descobrimento do Brasil. Outros foram apenas bons. 

Dei o terceiro álbum deles para minha prima como presente de aniversário sem nunca ter escutado, apenas porque ela tinha gostado do Dois pra caramba. Confesso que foi meio broxante. Que país é Esse se encaixa na segunda classificação. Mas fiquei tão curioso que resolvi ir na Calhambeque Discos comprar uma fita pirata para mim. Na época não tinha essas paradas de direitos autorais, copyright e essas coisas que foram feitas para enriquecer as grandes corporações capitalistas de entretenimento e tolher a criatividade e a disseminação cultural. A fita ainda existe e eu escuto esse álbum com muito prazer até hoje.

4. Bon Jovi - Slipery When Wet


Todos temos um lado negro musical. Conheço quem curta axé, sertanejo. Conheço até quem curta Roberto Carlos. Eu curto farofa. Quando meu filho viu um clipe da banda perguntou se eram mesmo homens que estavam tocando. Acho que até agora ele não tem certeza que aqueles seres de visual andrógino eram realmente homens. Essa era a característica do Glam Metal e o Bon Jovi é um dos seus maiores representantes.

Não me recordo bem quem me indicou este disco, mas me lembro de tê-lo comprado na cega, sem consultar ninguém. Gostei. Quando o álbum seguinte saiu, New Jersey, meu avô ouviu os netos conversando sobre ele e se ofereceu para comprar um LP para cada. Imagina a cara do vendedor quando ele, nos seus 70 e poucos anos, pediu um disco do Bon Jovi ao invés de uma sinfonia de Beethonven ou uma coletânea do Ray Conniff,.

5. Pink Floyd - Wish You Were Here:


Eu tinha acabado de conhecer +Charles. Sempre moramos no mesmo bairro, sempre estudamos na mesma escola mas só fomos nos conhecer no segundo grau. Estávamos no pátio do colégio e ele me perguntou se eu gostava de Pink Floyd. Eu nunca tinha escutado Pink Floyd na vida, mas fiquei com vergonha de demonstrar tamanha ignorância. Faz mais de 20 anos que tivemos esta conversa, mas pelo que me lembro, ela foi mais ou menos assim:

- Cara, adoro Pink Floyd.
- A gente podia trocar uns discos. Quais você tem?
- Ãh... Eu gosto mas não tenho nenhum disco...
- E como você escuta?

Alguns dias mais tarde ele tinha gravado algumas fitas cassete para mim. Nunca tinha escutado um representante do Rock Progressivo e, para ser bem franco, a palavra que definiu o meu primeiro contato com o Pink Floyd foi "chato".  Aos poucos eu fui me acostumando. Depois fui gostando. Escutei tanto que, em algum momento da minha vida o Pink Floyd foi minha banda preferida e, ainda hoje, é das que mais escuto.

Não tenho certeza se Wish You Were Here foi o primeiro álbum do Pink Floyd que escutei mas me lembro claramente de escutar a introdução de Shine on You Crazy Diamond no quarto do Charles e da sensação de estar me aproximando da praia num barco. Ainda tenho essa sensação toda a vez em que a escuto.

6. Pink Floyd - Dark Side of The Moon:


Eu tinha acabado de comprar meu primeiro aparelho de som. Até então eu usava um Receiver Polyvox PR 1500-S, um Tape Deck Technics 614 e um Toca Discos Philips 460 herdados do meu pai quando comprou uma aparelho de som mais moderno. Cara... Que saudades. Se arrependimento matasse...

Polyvox PR 1500-S
Technics 614
Philips 460

Meu pai me deu um 3 em 1 e um CD Player. Fomos pro Rio comprar - se não me falha a memória, no Rio Sul. Pra poder estrear a nova aquisição, também me foi dado o direito de comprar um CD e eu escolhi esse: Dark Side of The Moon, do Pink Floyd. 

Olhando em retrospectiva, que diferença entre a minha época e a dos meus filhos. Enquanto eu tinha que implorar para utilizar o aparelho de som do meu pai, sob a vigilância desconfiada dele, meus filhos praticamente possuem tudo o que é eletrônico lá em casa e sou eu que tenho que brigar para usar o Playstation, o computador, a TV da sala...

Eu ainda não era profundo conhecedor do Pink Floyd. Não sabia bem que estava adquirindo um dos mais importantes álbuns de rock de todos os tempos. Comprei-o apenas por que estava descobrindo - e gostando - do Pink Floyd e esse ainda não constava da minha coleção de fitas piratas. Lembro de mostrá-lo, todo orgulhoso, para a minha prima num jantar no Viena do Fashion Mall apesar de não ter certeza das músicas que ia encontrar quando o colocasse para tocar.

7. Midnight Oil - Blue Sky Mining:


Que eu me lembre, foi a primeira festa de aniversário que eu realmente organizei. Escolhi o que ia ser, o que ia tocar, o que íamos beber, quem ia convidar. Eu estava fazendo 15 anos e 1990 era época bem diferente da atual. Que eu me lembre, todos os meus amigos bebiam com o conhecimento dos pais. Por isso tinha até um barril de chopp e ninguém para pedir a identidade dos convidados.

Aluguei um jogo de luz tosco para pendurar no teto, propriedade de um rapaz que o alugava para todas as festas americanas que rolavam no Varjão. O salão de jogos se transformou numa boate sem DJ, que tocava uma seleção montada em fita sem a menor possibilidade de ser alterada. Parecia até a boate do Country que tocava as mesmas músicas na mesma ordem todos os sábados à noite. A cada 45 minutos tinha que trocar o lado da fita e o som rolou até que minha mãe abriu a janela do quarto que tentava dormir e acabou com a festa. Desconfio que herdei dela o mau humor quando meu sono é interrompido.

Depois que as coisas foram mais ou menos organizadas, fui pro meu quarto com alguns amigos ver os presentes e colocamos para tocar justamente esse LP, presente do Charles. É relativamente comum eu não gostar de um álbum da primeira vez que o escuto e ir mudando de opinião à medida que vou escutando. Esse foi um dos casos. Não gostei de imediato mas, em pouco tempo, tornou-se o meu preferido.

 8. Rush - Presto:

Leopoldo foi um dos convidados da festa e tinha me comprado um CD do Chico Buarque. Charles lhe disse que eu não ia gostar do CD e ele resolveu trocar por um outro que ele havia comprado para ele na mesma ocasião: Presto.

Na época eu tinha um certo preconceito contra o Rush. Tinha uns garotos na escola que rabiscavam o logotipo da banda em tudo quanto era superfície disponível. Colavam adesivos em seus cadernos. Usavam camisetas com a capa do álbum "A Show of Hands". Comentavam que o baterista do Rush tinha sido eleito o baterista do ano pela revista tal. Um deles chegou a colar o logotipo do Rush no Walkman CCE que me catou quando esteve na minha casa e depois foi devolvê-lo, todo constrangido, sob o olhar irado do pai. Eu o achava mainstream demais, modinha demais. Não ia escutar uma coisa que todo o mundo estava escutando. 

Mas, já que era presente, coloquei-o no CD Player. Gostei. Gravei mais alguns álbuns e escutava de vez em quando, principalmente a coletânea Chronicles. Quando fui para o Rio, conheci o +Gustavo Boletta, que se amarrava no Rush, queria tocar que nem o Neil Pert e foi uma grande influência. Fomos ao show que deu origem ao DVD Rush In Rio. Até hoje tento me achar sem sucesso na multidão toda a vez que há um close na platéia. Escutar YYZ, uma música instrumental com um solo enorme de bateria, ser cantada por uma multidão como se tivesse letra foi uma experiência incrível. Depois disso, baixei a discografia completa do Rush e a escutava quase diariamente no trabalho.

9. The Stone Roses - The Stone Roses



O irmão de um amigo, foi passar uma temporada nos Estados Unidos como imigrante ilegal. Acho que o cara deve ter se divertido à rodo por lá pois, quando voltou, todo o patrimônio que ele formou durante a empreitada se resumia a um aparelho de som e alguns CDs. Um deles era Brick by Brick, do Iggy Pop. Fantástico. Outro era The Stone Roses do grupo homônimo. Difícil escolher qual o melhor.

Na época, eu estava lendo um livro para o colégio chamado "A Cidadela", de A. J. Cronin. Não sei por que cargas d'água, toda a vez que escuto She Bangs the Drum me lembro deste livro.

10. Rush - Moving Pictures:


Em outubro de 2010 o Rush veio ao Brasil pela segunda vez e eu fui vê-los novamente com o +Gustavo Boletta . Para mim, um show funciona melhor se eu conheço as letras das músicas de cor. Costumo montar o set list do show no MP3 Player e ficar escutando sem para as músicas que serão tocadas, de preferência na ordem correta. O Tour de 2010, Time Machine, encaixou o álbum Moving Picture no set list e o executou integralmente. Foi a primeira vez que o álbum foi tocado ao vivo em sua totalidade, o que acabou sendo uma escolha bastante feliz pois ele é realmente fantástico. 

Enquanto aguardávamos o início do show, um cara chapado começou a puxar papo conosco. Perguntamos qual era a sua música preferida da banda e ele respondeu que era aquela do MacGyver.

Você pode até gostar de Tom Sawyer. Você pode até achá-la a melhor música já escrita. Mas não dá para admitir isso. É mais ou menos como falar que Starway to Heaven é a sua música preferida do Led Zeppelin :-)

Nesta época eu estava precisando espairecer, pensar na vida. Surgiu a oportunidade de correr a Maratona de Atenas e eu resolvi dar uma esticada pela Itália. Pela proximidade do show, o álbum estava no MP3 Player e era Limelight que tocava quando avistei as luzes da costa da Itália pela primeira vez.

11. The Who - Who's Next


Estava no trabalho e o +Alan Freitas, me passou os fones de ouvidos e me disse:

- Pense numa música boa.

Certamente não se tratava de Beto Barbosa, Sidney Magal ou Roberto Carlos. Estava tocando Baba O'Riley do álbum Who's Next.

Não sou tão ignorante assim. Eu já a tinha escutado antes, embora ela não tivesse me chamado muito a atenção. Baixei o álbum da internet e pus-me a escutá-la com mais atenção. Tem uma passagem dela que eu gosto muito:

"I don't need to fight
To prove I'm right
I don't need to be forgiven"

Não tenho muita certeza se era o que o Pete Townshend queria dizer, mas me lembro de estar dirigindo à noite pela W3, escutando esse trecho. Fiquei pensando no tempo que perdemos tentando provar que temos razão quando esse é um detalhe quase insignificante. Embora de vez em quando escorregue e tenha uma recaída, acho que "não quero ter razão, prefiro ser feliz" um bom lema de vida.

12. The Offspring - Greatest Hits:


Escutei esse álbum pela primeira vez no KA do +Tiago Romeiro, a caminho da Granja do Torto onde faríamos umas ladeiras.

- Cara... Que som fera...
- É uma coletânea do Offspring.

Não sei como consegui guardar o nome da banda e baixá-lo da internet. Passei-o para o iPod do meu filho, com 7 anos na época, e ele se tornou o seu álbum preferido. Creio que temos a obrigação de mostrar coisas boas aos nossos filhos ou eles tornar-se-ão ouvintes de Lepo Lepo e de outras drogas do gênero.

Toda a vez que escuto Self Esteem a recordação de como eu me sentia na época vem à tona e é exatamente como descrito na letra da música: "I'm just a sucker with a low self esteem". Passou. Posso continuar a ser o sucker, mas pelo menos a self esteem aumentou um pouco. :-)

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