Reforma é assim: você paga e as pessoas ficam esperando que você morra para não terem que entregar o que foi contratado. Quando percebem que você goza de boa saúde e, apesar de todo estresse e de todo o aborrecimento, não vai morrer, ficam putos da vida contigo e partem para a segunda estratégia: fazer tudo tão lentamente quanto possível para ver se você perde a paciência e aceita qualquer bosta de serviço que seja apresentado.
- Tá bom. Entrega essa merda do jeito que está porque merda ainda é melhor do que nada.
Me sinto como se estivesse num pesadelo do qual não consigo acordar. Se ele um dia terminar, o mínimo que vou poder dizer é que não foi uma boa experiência. Se algum dia eu disser "acho que estou pensando em mexer no apartamento", por favor me mostre este post. Caso eu não desista da ideia, pode me internar. Não me recordo de nada - absolutamente nada - que não tenha dado problema na execução. Até mesmo os móveis sob medida, nos quais foram investidos uma verdadeira fortuna, estão ficando aquém do desejado.
Anteontem descobri que algumas peças foram extraviadas. Como, eu não sei. Duvido que elas tenham sido entregues um dia mas elas ficaram jogadas na cozinha durante mais tempo do que as gravações das câmeras de segurança ficam armazenadas. Tudo isso porque o engenheiro mandou montar parte dos armários para tentar ganhar tempo e fingir que o atraso não era culpa dele. Acabou atravancando a cozinha e impedindo que as luminárias fossem instaladas, que o teto fosse pintado e sobretudo que se fizesse os ajustes no revestimento. Agora é só esperar mais 20 dias para que seja feita a reposição. Às minhas expensas, naturalmente. É impressionante que você paga por tudo. Pelo que foi feito e pelo que foi refeito, tantas vezes forem necessárias.
Ontem descobri que as prateleiras estão desalinhadas.
- A sua parede está fora de esquadro. Eu posso tentar resolver, mas aí pode ser que a porta do gabinete empene.
E eu pensando que móveis projetados eram projetados para o ambiente onde seriam instalados e que estes detalhes seriam levados em consideração. Se fossem móveis comprados nas Casas Bahia, eu conviveria com a situação numa boa. Depois de gastar tanto dinheiro, no entanto, não consigo olhar a prateleira torta sem sentir raiva.
Hoje descobri que os móveis de um dos quartos haviam sido montados no quarto errado e que a parede, pintada pela segunda vez, necessitará ser pintada ao menos uma terceira vez.
Antes de enxotar o empreiteiro que se dizia engenheiro aos berros da obra, ele tentou justificar o atraso de 3 meses em uma reforma que não deveria ter levado mais do que 3 meses para ser concluída.
- É que é muito detalhe...
- Porra! Você tá reformando um apartamento. Não tá construindo um prédio. Me diz alguma coisa que tenha sido realmente entregue. Não tem nada realmente pronto. A elétrica não tá pronta. O piso não tá pronto. A iluminação não tá pronta. As portas não estão prontas. Os banheiros não estão prontos. A pintura não tá pronta. Não tem nada pronto! Entrega logo essa merda!
A essa altura já estávamos na rua, dando espetáculo para os vizinhos. Ainda nem me mudei e já sou conhecido como o vizinho barraqueiro.
Aprendi que as leis da probabilidade não funcionam em uma reforma. Se há uma opção certa e uma opção errada, o cara ou coroa acertaria em metade das vezes. Numa reforma, a decisão errada é tomada em 100% dos casos.
O piso da cozinha e da área foi assentado a partir do quarto de empregada, onde nem seria utilizado. Foi faltar justamente no meio da cozinha. Um novo pedido teve que ser feito e não preciso lembrar que pedidos diferentes levam a tonalidades diferentes. No meio da cozinha. Na época eu ainda me preocupava com essas questões estéticas.
Na cozinha, havia um mosaico com um revestimento diferente, o tal do Rio Retrô. A compra foi a menor e faltou Rio Retrô. Pra solucionar, o empreiteiro decidiu não levar a faixa do Rio Retrô até o chão. Como haveria um armário, ele usou o revestimento branco utilizado no resto da parede. Se ele tivesse me consultado, eu teria comprado outra caixa, mas esta é outra lição a ser aprendida. Você nunca é consultado. O apartamento é seu. O gosto é seu. O dinheiro é seu. Mas a decisão não é sua. Como os empreiteiros pegam várias obras simultaneamente, e têm que estar em todas ao mesmo tempo. Se surge um problema eles têm que resolver o mais rapidamente possível e não tem tempo de te consultar. Mesmo que você more e trabalhe a 500 metros da obra e esteja disponível sempre que solicitado, nunca ocorre deles te chamarem para a simples pergunta que teria feito toda a diferença: "o que eu faço para resolver a falta do Rio Retrô"?
Não foi suficiente. Apesar da gambiarra, tive que comprar outra caixa do Rio Retrô, já que ele também foi instalado no piso e não dava para acochambrar o piso. Pra piorar, quando o armário foi montado, ele não cobriu toda a faixa branca. No final, eu tinha uma sobra de Rio Retrô e uma faixa branca no lugar onde ele deveria ter sido colocado.
Tínhamos dois mosaicos diferentes. Obviamente, o mosaico de um foi assentado no outro. Cortou os azulejos para que eles coubessem na faixa que havia sido medida exatamente para o outro revestimento. Depois me ligou dizendo que tinha que comprar mais Pérola Negra porque só tinha vindo a metade. Fui verificar e disse pela primeira vez a frase que repetiria por diversas vezes mais tarde:
- Mas não era para ser instalado nesse lugar.
- Tem certeza? Mas esse foi o único revestimento que veio. Então o outro está faltando.
- Não está. Eu retirei na loja e o trouxe pessoalmente.
Procura daqui, procura dali e eis que ele é encontrado.
- Não tem problema. Eu mando tirar e colocar no outro banheiro.
As peças cortadas tiveram que ser compradas novamente. Como de costume, a quantidade foi passada a menor. Tive que comprar uma terceira vez. Três compras, três lotes, três tonalidades diferentes.
- Não coloca os acessórios do banheiro antes de consultar a +Wandréa Marcinoni, que é quem decide onde eles vão ficar.
- Pode deixar que nada será colocado sem vocês serem consultados.
Só que ele já havia mandado colocar. A papeleira acabou parando dentro do gabinete do banheiro.
Aprendi que os prazos só existem para te pressionar a arrumar algo para ontem. Você acha que vai ter uma manhã tranquila quado o telefone toca:
- Vou terminar a obra daqui a 15 dias mas tem que comprar esse material ainda hoje.
Esqueça qualquer pesquisa de preço. Esqueça qualquer tipo de negociação em relação à forma de pagamento. Esqueça qualquer tipo de estética. Chega um momento em que tudo o que você quer é terminar com o sofrimento o mais rápido quanto possível e aceita qualquer coisa que te digam que vai apressar sua conclusão.
Aprendi que o projeto não é pensando como um todo. O empreiteiro pensa: "Hoje vou entregar a parede do banheiro". "Hoje vou entregar as louças do banheiro". "Hoje vou entregar a banheira". Em nenhum momento ele pensa "hoje vou entregar um banheiro". Se ele tivesse pensado assim, eu não teria uma banheira à venda no mercado livre porque, para ela caber, todo o banheiro teria que ser chegado 10 centímetros para o lado. Só que o revestimento já estava assentado, o vaso sanitário já estava colocado e a bancada do banheiro já estava sendo cortada. Resultado? Vende a banheira e faz um box.
Aonde coloca o Box? Não sei, ainda não cheguei nesta parte. |
Banheira aconchegada na parede |
Sempre dissemos que queríamos ar-condicionado em todos os cômodos. Quando falei isso para o pedreiro, ele me perguntou porque os drenos não haviam sido passados pelo chão, já que a parede de concreto armado não permitia que eles fossem embutidos.
- Não sei. O engenheiro não sou eu. O arquiteto não sou eu. Eu sou só aquele que abre a carteira.
No final, tivemos que aplicar uma peça de gesso horrorosa para esconder a tubulação dos drenos.
Esperava me mudar em dezembro. Depois me conformei em me mudar antes do natal. Depois antes do ano novo. Depois antes do carnaval. Agora, se conseguir me mudar antes da semana santa, estou me dando por satisfeitos. Enquanto isso, as crianças seguem dormindo no chão e, quando queremos fazer uma refeição em família, metade senta à mesa, metade senta no chão da cozinha.
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