Saí para pedalar hoje. A cidade está emporcalhada com cavaletes de candidatos. Próximo ao CCBB, reparei nas mensagens do Alberto Fraga. Pra quem não o conhece, trata-se de um candidato a Deputado Federal, cargo que ele já ocupou até 2010 quando se candidatou a uma vaga no senado e acabou não se elegendo. Foi também secretário de transportes do GDF durante a gestão do Arruda quando por pouco não acabou com o Eixão do Lazer. O fechamento desta via para que meia dúzia de gatos pingados caminhassem em pleno domingo atrapalhava a vida dos motoristas que vinham da EPIA. Acho que ele não era um desses gatos pingados. Se ele frequentasse o Eixão perceberia que o número de pessoas que usufruem deste espaço é bem maior do que a torcida do Botafogo. Esse é um problema: as pessoas que definem políticas públicas não utilizam os serviços das áreas que estão à frente. O secretário de saúde não usa a saúde pública, o secretário de educação não tem seus filhos matriculados em escola pública e os únicos transportes que o secretário de transporte utiliza é o carro - oficial com motorista - e o helicóptero.
Alberto Fraga foi Tenente Coronel da PM do DF. Não é surpreendente que sua plataforma política esteja baseada na segurança pública, mais especificamente nos dogmas de uma segurança pública baseada na repressão. Não é para menos. Por mais que se queira passar a impressão que o papel institucional da PM é proteger a população, ou ela não está cumprindo bem esse papel ou o seu papel não é bem esse pois, a julgar pela sensação generalizada de insegurança, obviamente não está funcionando. Pelas notícias dos noticiários e julgando pelo temor que todos têm dante a aproximação de um policial, parece-me apropriado supor que a real função da PM é baixar a porrada na população, bandida ou não.
Então vamos as propostas estampadas nas faixas de Alberto Fraga:
- Acabar com os saidões de presos perigosos;
- Garantir o cumprimento integral das penas;
- Tornar obrigatório o trabalho para presos;
- Acabar com a impunidade do menor bandido.
Outro pequeno detalhe é que 80% da população brasileira ocupada tinha, segundo a PNAD de 2012, uma renda inferior a R$1.800,00. Se os detentos vão ganhar mais do que 80% da população, fica parecendo que a privação de liberdade é uma recompensa e não uma punição.
Eu sei. O meu erro foi cobrar coerência de onde não se pode esperá-la. Veja bem. Ele é aliado do Arruda. Se lembra dele? Foi aquele que, quando senador, jurou pela felicidade dos filhos que não havia violado o painel eletrônico do Senado. Acabou renunciando para não ser cassado pela violação do painel eletrônico do Senado. Apesar disso, foi o candidato a deputado federal com a maior votação proporcional de todo o Brasil na eleição seguinte. Um viva à memória e à coerência do povo brasileiro. Foi eleito governador e conseguiu a proeza de ser o primeiro governador em exercício encarcerado. Apesar disso, liderava a eleição para governador do Distrito Federal antes de ser obrigado a renunciar à candidatura em função da Lei da Ficha Limpa. Um viva à memória e à coerência do povo brasileiro. Se o cumprimento integral das penas é uma de suas bandeiras e se o ex-governador Roberto Arruda foi condenado a 5 anos e quatro meses de detenção, em regime semi-aberto, me parece um tanto quanto incoerente que ele permaneça ligado a alguém que, segundo suas bandeiras, deveria estar cumprindo integralmente sua pena. Será que apesar de defender que se acabe com a impunidade do menor bandido, Alberto Fraga é a favor da impunidade do político bandido?
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