O que nos une

O mistério acabou. E olha que nem se tratava de um mistério tão grande assim. Os vazamentos foram tão grandes que, no final das contas, ninguém ficou surpreso ao constatar que o Renan Calheiros e Eduardo Cunha estavam na lista. Dado o passado de ambos, surpresa seria se estivessem de fora. Seria como descobrir que, apesar de metade de seu partido estar na lista, Paulo Maluf estivesse de fora. E não é que desta vez ele pôde dizer que não tinha nada a ver com isto sem ter que conter o riso ou cruzar os dedos? Por falar em partido, fiquei com a sensação que o PP está mais para uma quadrilha do que partido. E por falar em Paulo Maluf, fiquei com a sensação de que ele já não goza do prestígio de outrora. Melhor colocar as barbas de molho que periga o mandado prisão contra ele ser cumprido pela Interpol.

Fernando Collor tá lá. Foi afastado da presidência por corrupção. Parece que não tirou nenhum ensinamento do episódio. No auge da indignação popular da época, os estudantes foram às ruas pedir o impeachment do presidente corrupto liderados pelo presidente da UNE. O tempo passou e ambos os presidentes se tornaram senadores. Não deixa de ser irônico que ambos, além de colegas de plenário, se tornassem colegas na lista de corrupção da Petrobrás.

O Facebook inteiro sabe que os nordestinos não sabem votar. Não é surpresa que eles estejam na lista. Também tem carioca, paulista, paranaense, mineiro, gaúcho, goiano, matogrossense, sul matogrossense, acreano, roraimense, catarinense. Todas as regiões do Brasil estão representadas. Talvez não sejam os nordestinos que não saibam votar. Talvez todos nós brasileiros tenhamos um certo grau de dificuldade na hora de apertar a tecla verde e escolher os representantes que mandamos para Brasília. Por falar em Brasília e desafiando mais um senso comum, não há nenhum brasiliense na lista. Parece que os candangos têm razão, afinal, quando dizem que o problema não são eles mas os representantes que os outros estados mandam para lá. O que não quer dizer que estejam num patamar superior no quesito eleição. Quem elege e reelege Joaquim Roriz para tantos cargos diferentes tem que comer muito arroz com feijão antes de ser capaz de bater no peito e dizer que sabe votar.

No final das contas a tal lista do Janot é o que nos une de norte a sul. É a nossa ética torta. É a  nossa crença que o estado existe para tirarmos proveito dele. É a nossa indignação com a corrupção. Não por princípios, mas porque não somos nós a tirar proveito. E não é de hoje. Citando o Barão de Itararé, "negociata é todo bom negócio para o qual não fomos convidados". "Se gritar pega ladrão, não fica um meu irmão". Vamos mudar o hino nacional para música do Bezerra da Silva pois ele reflete muito mais nossa índole do que o ovirandu que nunca nos representou. Vamos parar de discutir a reforma política pois nunca vamos encontrar um sistema eleitoral que resulte numa amostra mais representativa do nosso povo do que o nosso congresso. O que nos incomoda é que ele nos reflete muito mais fielmente do que gostaríamos de admitir. Finalmente, vamos parar de terceirizar a culpa e vamos assumir a responsabilidade dos nossos problemas. O problema não são os políticos. O problema somos nós.

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