Recentemente, sequestrei os meus álbuns de infância. Pouco a pouco,
estou escaneando, restaurando e as eternizando. Ao vê-las
esmaecendo, percebi que elas retrataram tão fielmente minhas
memórias que ambas estão se apagando com o tempo.
Fotos já foram um recurso limitado. Filmes eram caros. As revelações mais
ainda. Elas tinham que valer a pena. Retratavam momentos que de tanto
significado, acabavam gravados na memória. Hoje, as câmeras estão sempre
a mão e tirar uma foto se tornou tão banal quanto os momentos que
registramos. A lembrança se perde tão logo perdemos as fotos em
algum canto do HD quando esvaziamos a memória da câmera
para registrar mais momentos banais.
Já não
me lembro da minha primeira bicicleta. Deduzo que não era esta pois não
nasci sabendo me equilibrar sobre duas rodas e, na época, já estava
andando sem rodinhas. Mas me recordo do quanto eu odiava essas
sandálias que enchiam o pé de chulé e cujas fivelas espetavam até tirar sangue. Na minha infância, criança não tinha
tanto querer. A gente usava o que mamãe escolhia. O carro ao lado era o
Corcel bege do Vovô Carlos, o segundo de seus dois únicos carros que
conheci enquanto tive sua companhia. Da família de meu pai herdei a
tendência a me jogar em todos os buracos que aparecem à minha frente. Da
família de minha mãe, a tendência a trocar de carro somente quando eles
acabam. A foto foi tirada no Rio, durante uma Volta à Lagoa que meu pai participou no início de sua carreira de corredor amador. Numa edição posterior, eu mesmo fiz minha estreia, aos 10 anos de idade.
Evocar
memórias é como restaurar imagens no Photoshop. Alguns detalhes estão
perdidos para sempre. Os tons não são mais exatamente iguais aos originais. O resultado, porém, é geralmente agradável de se perceber.
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