O Brasil sem Corrupção


Havia algo de estranho nas ruas hoje. Custei a perceber do que se tratava. As ruas pareciam mais amplas, o tráfego tinha uma fluidez como nunca havia presenciado antes. Aí percebi que não havia nenhum carro estacionado em fila dupla. Andei um pouco mais e percebi vagas disponíveis. Eram as vagas reservadas aos deficiente físicos que não estavam sendo ocupadas nem por um minutinho.

Parecia um milagre. Provavelmente consequência da evocação repetitiva do nome do todo poderoso na noite anterior, quando a Câmara, em catarse, fez a vontade popular e varreu a Dilma e a corrupção do Brasil. Deus deve ter ficado comovido e operado em nosso favor. Fato é que, tanto no nível macro, aquelas medidas nas casas dos milhões e que estamos acostumados a apontar nos políticos, quanto no nível micro, aquelas cotidianas que costumamos perdoar em nós mesmos, as transgressões foram deixadas de lado e as regras passaram a ser cumpridas por todos. Para o bem e para o mal.

Começou com o 342º voto pelo sim, em nome de deus, da família e da Xuxa, digo, do Cunha. O impeachment da Dilma estava aprovado. O Brasil se livrava Della, de Lulla e de todos os petralhas que implantaram um ditadura comunista e inauguraram a cleptocracia no Brasil. Nunca houvera corrupção em terras tupiniquins. O costume de se apropriar das coisas públicas em benefício próprio começou em 2002, tão logo o PT assumiu o poder.

Foi um efeito cascata impressionante cujos efeitos começaram a se sentir logo pela manhã. A repatriação de recursos foi tão grande que o Banco Central não conseguiu segurar a cotação do dólar por mais que fizesse leilões de swap cambial. A moeda americana despencou a níveis muito menores do que se encontrava antes da crise política, econômica e moral ter se instalado. Tamanha foi a arrecadação de impostos e multas, cuja anistia foi veementemente recusada por todos os que voluntariamente aderiram ao pacto Brasil sem Corrupção proposto pelos presidentes Michel Temer e Eduardo Cunha que o déficit público previsto para 2016 se transformou num gigante superávit nominal que nos dará tranquilidade para colocar o país novamente no rumo do futuro mais mió de bão que é de nosso direito. Sempre soubemos da nossa predestinação em sermos o país do futuro.

Cunha, por sua vez, renunciou não só à presidência da Câmara como ao seu mandato de deputado. Como um bom homem de Cristo, se arrependeu e correu para confessar seus pecados à Polícia Federal. Sua assessoria de imprensa informou que ele solicitou que a mesma agilidade com que conduziu o processo de impeachment da Dilma fosse aplicado ao seu próprio inquérito. Queria ficar em paz com sua nova consciência. Foi um gesto comovente que inspirou os 150 deputados que respondem processos no STF a fazer o mesmo. Houve a necessidade de distribuição de senhas na superintendência de Polícia Federal para tantos depoimentos pudessem ser colhidos. Não tiveram que se preocupar, porém, com o Paulo Maluf. O fim da corrupção no Brasil lhe tocou de tal forma que ele viajou imediatamente para Nova Iorque somente para que o mandado de prisão emitido contra ele pela Interpol fosse finalmente cumprido. O gesto causou polêmica pois foi entendido como uma tentativa de buscar o privilégio de cumprir pena num presídio americano e, no Brasil sem Corrupção, privilégios são vistos com desdém. Ao ter seu pedido de extradição de volta ao Brasil negado pela justiça americana, a vergonha foi tamanha que ele não resistiu. Morreu de desgosto confirmando, de certa forma, a máxima que era tão cara a seus eleitores.

Os servidores da Receita Federal ficaram sobrecarregados tamanha foi a quantidade de retificadoras transmitidas para regularizar isenções que os contribuintes haviam incluído indevidamente em suas declarações de anos anteriores. As TVs a cabo registraram um aumento recorde de adesões, fruto da regularização dos gatos. Como contrapartida, acabaram com a franquia de dados e passaram a entregar a velocidade contratada de banda larga.

Até mesmo o Lobão começou a arrecadar uma fortuna em direitos autorais depois que a prática de baixar mp3s da internet diminuiu a praticamente zero. Uma pesquisa do Datafolha, conduzida com todo o rigor estatístico para lhe conferir o máximo de confiabilidade,  apontou que somente eram baixadas músicas que os internautas já possuíam em outro tipo de mídia e que as gravadoras passaram a reconhecer como justa a conversão para um formato que possa ser executado em outros dispositivos. Afinal de contas, os consumidores já adquiriram o direito a execução daquela música e não seria correto forçá-los a pagar novamente por ele.

E pensar que tudo isto começou quando Bruno Araújo, do ilibado PSDB, partido que nunca se envolveu com privatizações duvidosas e com esquema de compras de votos, práticas exclusivas do PT, profetizou em forma de voto: "Leia Mais:Leia Mais:http://politica.estadao.com.br/noticias/geral,deputado-que-deu-o-voto-342-pelo-impeachment-aparece-em-planilha-da-odebrecht-na-lava-jato,10000026669Por isso digo ao Brasil sim para o futuro!". A propósito, mesmo alegando que as doações que constam da delação premiada da Oderbretch à Lava Jato tenham sido legais, o ex-deputado emitiu um DARF e doou a totalidade do valor aos cofres públicos antes de renunciar ao seu mandato. No Brasil sem Corrupção inaugurado no dia 18 de abril, políticos de qualquer partido, exceto os do PT, recusam terminantemente doações de empresas privadas.
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