Facebook

Notei uma coisa bastante curiosa depois que comecei a usar o Facebook. Analisando as postagens de nossos "amigos", ficamos a par do modo de pensar de pessoas que, no mundo real, não passam de conhecidas. Antigamente não entraríamos em contato com pensamentos tão díspares. Buscamos nos relacionar com pessoas que têm algo em comum conosco e, por isso, não daríamos trela àquele colega de trabalho que pensa de forma totalmente diferente e, no máximo, nos envolveríamos em alguma discussão superficial somente para chegar à conclusão que Fulano realmente não tem nada a ver conosco. Agora não. Nossa linha do tempo é bombardeada de postagens de assuntos que, para o bem e para o mal, nunca pensaríamos entrar em contato.

Alguns deles são excepcionais, como os posts de um amigo biólogo, espeleólogo e corredor. Considero tudo o que ele compartilha como material de primeira qualidade. Outro dia li por seu intermédio um artigo que questionava por que não existem pinguins no hemisfério norte. Creio que a maioria das pessoas sempre tenha pensado neste fato como um acaso da natureza. O artigo, porém, informa que eles não existem, mas já existiram num passado recente. Foram extintos pela caçada indiscriminada do homem em 1844. Este mesmo amigo acompanhou as manifestações de junho de 2013 in loco e seus relatos sempre me impressionaram pela coerência e pela fidelidade do que eu também presenciava pessoalmente. Na vida real, somos apenas conhecidos. Nunca teria tido acesso a esse material se não fosse o Facebook.

Alguns de meus colegas de trabalho são exímios fotógrafos, além de viajantes experientes. Apesar de não frequentarmos a casa um do outro habitualmente, o Facebook está repleto de fotos que tiraram em suas viagens. Fotos que me fazem querer conhecer estes logares - além de desejar que eu tivesse metade do talento deles. Se um deles postou uma foto de uma viagem ao Uzbequistão, é porque o lugar merece ser visitado.

Este é o material positivo. Há também o material negativo.

Tenho um "amigo" no Facebook que é contra a liberação das drogas e contra o aborto. Reconheço o direito das pessoas em pensarem diferente, mas não consigo concordar que alguém seja a favor de endurecer a punição para os usuários de drogas recreativas quando o passado - a lei seca nos EUA - e o presente - o encarceramento em massa de pessoas envolvidas na distribuição e consumo de drogas - já demonstraram claramente que esse modelo não funciona. Da mesma forma, não consigo entender alguém que trate o aborto como caso de polícia e não de saúde pública.

Esta mesma pessoa é a favor da homeopatia quando já está mais do que provado que o seu efeito é tão positivo quanto o de um placebo e, heresia suprema, adepta do movimento anti-vacinação em alguns casos. O fato dela ser contra ao Marco Civil da Internet me faz desejar que ele seja aprovado o quanto antes, principalmente quando levo em consideração que Marco Feliciano e Jair Bolsonaro se colocaram contra ele.

Tenho amigos que compartilham material que não imaginava que ainda tinha lugar no mundo. Marcha da família com deus pela liberdade. Pessoas enaltecendo e pregando abertamente a volta do regime militar. Paranóia anti-comunista. Intolerância religiosa. Pessoas que concordam com as colunas do Rodrigo Constantino, Reinaldo de Azevedo e Olavo de Carvalho.

Às vezes me pergunto se devo bloqueá-los ou ao material que compartilham. Canal da Direita. Folha Política. Veja. Não ter contato com este tipo de pensamento me tornaria mais feliz, no melhor estilo "a ignorância é uma benção". Não o faço, no entanto, para ter uma base de comparação. O Canal da Direita fala mal, então deve ser bom.