Hobbies masculinos

Cedo ou tarde, todo homem descobre um hobby com a capacidade de enlouquecer sua mulher. Pode tanto ser um hobby inocente como o videogame ou o jogo de botão; perigoso como saltar de paraquedas ou se afundar na birita; esportivo como o futebol, a bicicleta ou a corrida; ou ainda, musical como a guitarra. Hobbies anteriores ao relacionamento costumam ser mais tolerados, já que sempre se pode sacar o argumento vencedor que essa atividade já havia sido incorporada ao seu repertório antes de conhecê-la. De vez em quando escaparão insinuações que o seu sábado de manhã seria mais bem utilizado acompanhando-a ao salão do que em cima da bike. Nesses casos, uma respirada funda costuma dar conta do recado.

Se for um vício adquirido depois de iniciado o romance, aí fudeu geral.
"Essa sua bike foi a pior coisa que aconteceu na minha vida." (esposa de um montain biker)
"Você não acha que está exagerando? Entendo correr 5km mas uma meia maratona..." (esposa de um corredor)
Quer ver o caldo entornar de vez? Experimente adicionar a presença dos amigos. Com cerveja.
"Pelada com os amigos? Ensaio com a banda? Cara, eu sou casado. Não posso fazer nada disso."
Não sei de onde vem essa ideia que é melhor não fazermos nada juntos do que você se divertir e eu não. Foi o que eu disse uma vez à ex:

- Se a opção for não fazer nada, você fica em casa fazendo nada que eu vou arrumar alguma coisa para fazer.

É claro que toda esta macheza indicava que aquele relacionamento já estava agonizante. Ela não entendia que eu precisava da endorfina que só quilômetros a fio de corridas conseguem gerar para manter a sanidade. Pelo contrário, a corrida era a prova irrefutável dos meus "problemas internos", locução sempre pronunciada com o indicador ostensivamente apontando para a têmpora, contextualizando onde achava que se encontrava a localização do problema.

Uma namorada não entendeu que a solidão, representada pela rede perigosamente afixada sob a sombra de um abacateiro no gramado em frente ao bloco, era um hobby, uma forma de meditação que me dava forças para superar o momento difícil que eu atravessava. Achava que a necessidade por isolamento era uma demonstração de indiferença, de falta de afeto.

São só ciúmes. Ciúmes da bike. Ciúmes do videogame. Ciúmes da guitarra.

Há uma frase que diz que as mulheres querem mudar os homens apenas para reclamar que eles mudaram. Não vale a pena ser responsável pela guitarra empoeirada no fundo do armário. Deixe que o natural fim da empolgação assuma este papel.

As mulheres parecem não entender que nós, homens, às vezes, muitas vezes, somos apenas crianças. E como crianças, precisamos de brinquedos e de outras crianças para nos divertirmos. Apenas isso. Não significa que não gostemos de vocês ou que vocês não nos sejam importantes. Não significa que estejamos utilizando pretextos para ir à caça ou para trairmos. Não significa que não nos divertimos mais quando estamos com vocês. Significa apenas que temos outros interesses e que esses interesses dizem um pouco sobre nós. Dizem um pouco sobre os caras com quem vocês escolheram estar. Se não os tivéssemos, talvez não fôssemos quem somos. 

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