Revistas

Acesso à sala de embarque do Aeroporto de Floripa. Revista. Raio-X, detector de metais e uma pilha de objetos perigosos descartados em exposição. Canivetes. Isqueiros. Cortadores de unha. Ainda falta mais de uma hora para o voo. Como de costume, não levei o carregador do celular e bateria está zerada. O livro da ida, Brasil: uma Biografia, de Lilia Moritz Schwarcz e Heloísa Starling, estava terminado. Procuro por alguma distração e a única alternativa que se mostra é um acanhado stand da La Selva. Livros, não há. Só revistas. Uma delas me chama a atenção. Não pelo seu conteúdo, o mesmo de sempre: nenhum. Me causa espanto, porém, que a Revista Caras, disponível em qualquer sala de embarque do país, ofereça como brinde um belo cortador de pizza. Metálico. De bordas afiadas.


Ainda que não seja um letal cortador de unha, imagino uma cena em que o sequestrador está com o cortador de pizza no pressionando o pescoço da comissária assustada, enquanto ele ameaça o comandante:

- Abre essa porcaria de porta senão vou fatiar a gatinha aqui fora...

Não me contenho. Tiro foto para postar no Facebook. Volto à checagem de segurança e chamo a atenção para o fato.

- Não podemos fazer nada, senhor. Nossa responsabilidade termina nesta porta.

Típico de quando os serviços deixam de servir ao seu propósito para se tornarem simplesmente um emprego. Uma funcionária intervém:

- É um daqueles cortadores redondos? Eles podem ser embarcados sem problema.

A voz convicta tenta transparecer que o cortador de pizza é um item que é transportado tão habitualmente na bagagem de mão que a checagem de segurança se depara com sua imagem nos aparelhos de Raio-X todo santo dia. Acho que, na verdade, a entonação foi adquirida e aperfeiçoada ao longo do tempo como um mecanismo para despachar passageiros chatos o mais rapidamente quanto for possível.

Diante de um argumento matador como esse, nada me resta a não ser me recolher à minha insignificância e voltar com o rabo entre as pernas para enfrentar o tédio que ainda me resta pela frente.

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