Outro dia Pedro teimou que queria colocar a camisa do Flamengo para jogar futebol na quadra da quadra. Por diversas vezes já tinha alertado Wandréa que um dia isso ainda vai acabar dando problema. Quando o Conselho Tutelar descobrir que ela deixa os filhos usarem o uniforme do Flamengo, hão de lhe processar por corrupção de menores e ainda hão lhe tirar a guarda dos meninos. Isso não é o tipo de coisa que uma mãe possa fazer com seus filhos impunemente.
Pedro foi na frente. Sei que nos tempos atuais deveria ter ido com ele. O tempo em que os pais podiam mandar seus filhos irem brincar lá fora já passou há muito tempo. Hoje em dia, a não ser que se tenha um jardim murado ou um condomínio gradeado que a isole do mundo hostil, deixar uma criança desacompanhada do lado de fora de casa, por um minuto que seja, pode dar tanto problema como colocá-la num uniforme do Flamengo. Longe foram os dias em que rua podia ser lugar de criança. Hoje, seu Cebola estaria sendo processado por abandono de incapaz por deixar o Cebolinha fazer Bullying com a Mônica, largado na Rua do Limoeiro.
Olho para a quadra e nada de criança chutando bola. Aonde será que eles se meteram? Percebo um carro de polícia dando baculejo num grupo de crianças perto do muro grafitado da subestação da CEB da quadra. Ei! Pedro tá lá!
- Calma aí, seu guarda. Conheço esse menino. É meu filho. Ele é inocente. Eu juro!
- Quer dizer que a responsabilidade por esse rapaz é sua? Que tipo de pai veste o uniforme do Caje no próprio filho? Já estávamos batendo um rádio para lá para averiguar se tinha havido alguma fuga de internos hoje.
- Pode deixar, sr. Policial. Vou falar para a mãe dele usar essa camisa somente como pano de chão.
- Melhor assim. Pode ir, rapaz. Tá liberado.
Quando estávamos fora do alcance de visão e de audição dos policiais, falei para Pedro:
- Não disse que essa camisa ainda haveria de dar problema? Vou te comprar uma do Botafogo ainda hoje para você poder finalmente torcer para um time de verdade.
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