O limite do isolamento já chegou




O MPDFT entrou com uma representação para obrigar que o GDF divulgue a taxa de ocupação usando nos cálculos o número de leitos disponíveis e não os planejados no cálculo. A Secretaria de Saúde continua afirmando que somente os números oficiais refletem a realidade, mesmo que a realidade desminta os números oficiais.

Ibaneis anunciou que vai abrir geral, sem restrições. O limite do isolamento já chegou. Afirma não temer o aumento de casos e óbitos: "Não adianta querer colocar nas minhas costas o sofrimento dos outros". Me lembrou Bolsonaro dizendo: "E daí? Lamento. Quer que eu faça o que? Eu sou Messias mas não faço milagres". Aliás, o discurso de ambos está cada vez mais alinhado. "(O coronavírus) Vai ser tratado como uma gripezinha, como isso deveria ter sido tratado desde o início" foi dito por Ibaneis, mas também não faria feio na boca de Bolsonaro.

A impressão que tenho é que não é por acaso. Ibaneis tem ambições nacionais. Dizem que ele ficou bastante ressentido com seu partido, o MDB, por ter lançado a candidatura de Henrique Meirelles à presidência ao invés da sua. Não sei se é real. A bem da verdade, sua eleição ao Palácio dos Buritis já era bastante improvável. Ibaneis era desconhecido até mesmo no meio político local e se aproveitou do fenômeno que colocou uma leva de desconhecidos nos governos estaduais. Porém, se ele realmente pretende se lançar à presidência da república, tem que conseguir projeção além do DF e a máquina de propaganda bolsonarista viria bem a calhar. Pode funcionar. Não para 2022, é claro, que o bolsonarismo não vai abrir mão de Bolsonaro. Mas agora que o presidente deu uma guinada rumo ao Centrão para se garantir no cargo, quem sabe Ibaneis consegue algum tipo de composição que lhe garanta projeção para 2026? Pode funcionar.

Pode dar errado? Pode, mas o que ele tem a sacrificar a não ser a vida dos outros? O máximo que pode lhe acontecer é não ser reeleito em 2022 o que seria indiferente em relação a suas ambições nacionais. Uma responsabilização criminal está fora de questão: ele só está seguindo "ordens superiores", apenas fazendo o que Bolsonaro diz que todos os governadores deveriam estar fazendo.

Tá bem, vai que morre uma pilha de gente em consequência do liberou geral. Meu amigo, a gente está no Brasil. Aqui morrem 40.000 pessoas todos os anos de morte matada - uma parte considerável delas nas mãos do próprio estado, através de seu braço armado, a polícia. Considere ainda que um número de ordem de grandeza semelhante também morre em decorrência da acidentes de trânsito. A vida por essas bandas vale muito pouco. Se forem pretos e pobres, então, 100.000 mortos de covid-19 cabem perfeitamente na consciência nacional (ou na falta dela). Mas a 2 anos e meio das eleições acho irrelevante. Depois que Collor foi eleito senador e recentemente passou a desfilar no Twitter com destaque, concluo que a memória do eleitor brasileiro é tão curta que se o Brasil fosse a Alemanha, Hitler seria um candidato competitivo nas eleições de 1949.

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