O terremoto


- Acorda, Márcio! Está tudo tremendo!

Ele, num sono profundo de quem finalmente se joga na cama depois de um dia inteiro ocupado por uma viagem de avião internacional com uma conexão do meio e a exploração das redondezas do hotel, custou a se situar. A princípio, aquele toc-toc-toc lhe pareceu como se um casal no andar de cima estivesse mandando ver na empolgação, mas logo concluiu que não haveria uma foda vigorosa o suficiente que fizesse o decodificador da TV a cabo despencar da prateleira em frente à cama.

Andréa, apavorada, o sacudia para que tomasse alguma providência, nem que fosse entrar em pânico como ela. Era inútil, porém. Márcio se sentia como se estivesse pregado à cama. Cansado demais para sequer se preocupar, suspirou de alívio quando o tremor de terra acabou.Virou-se para o lado e disse à mulher:

- Já passou. Pode voltar a dormir, vai.

Percebendo que não podia contar com o marido, que havia lhe dado as costas e voltado a ressonar, Andréa se levantou e foi em direção à janela. Lá fora, a vida prosseguia como se nada tivesse acontecido. As ruas continuavam desertas e as poucas pessoas acordadas, em suas janelas de luz acessa, não demonstravam qualquer comoção fora do normal. Talvez fosse o esperado de um lugar onde, nos elevadores, há o aviso "no usar ascensor en caso de incendio o sismo".

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