O ano que fizemos contato

Já é clichê dizer que todo homem antes de morrer deve escrever um livro, plantar uma árvore, ter um filho. Minha mini-biografia do O ano que fizemos contato deixa bem claro que sou o pai do Henrique. O sítio de Friburgo, mamãe dizia que só servia para plantar maconha. Como nunca trilhamos por esse ramo do agronegócio, poderia-se até dizer que ele não serviu para nada, exceto pelo fato que me lembro de ter plantado umas mudinhas de eucalipto quando, após a vaca ter literalmente despencado da ribanceira numa noite de tempestade, tentávamos dar algum sentido econômico àquela terra recantada aonde chovia chuva de mistério antes de jogarmos a toalha e passá-lo adiante a alguém que iria desenvolver a sua real vocação. Aquela que mamãe falou. Por falar em mamãe, na semana da assinatura da escritura, Dona Heloisa tinha pesadelos com a possibilidade do iminente comprador dar para trás. O sítio não parece ter sido uma experiência das mais bucólicas.

Lembro-me do dia, na varanda do apartamento da Rua Aires Saldanha, sentado na cadeira de balanço e provavelmente com um cigarro entre os dedos, em que contei à minha mãe que eu estava fazendo engenharia mas o que eu realmente sonhava para mim era me tornar escritor. Talvez eu tivesse tido talento para ir adiante. Na época eu ainda tinha algo que agora me falta: uma Autoestima Temer turbinada por elogios dos professores e por publicações em esporádicas revistas de páginas batidas à máquina do Colégio Anchieta. Pensando bem, talvez tenha sido um bom negócio não ter acreditado nos meus sonhos.

Porém, quando menos se espera, eis que finalmente surge um livro. E não é um livro qualquer. É o meu livro! Quer dizer, não é que eu tenha escrito um calhamaço que vá revolucionar a literatura brasileira e mundial. É apenas um singelo continho bobinho numa coletânea que nós mesmos resolvemos bancar, mas cá entre nós, esse pequeno detalhe pode perfeitamente ficar por aqui😉. Se escritor é quem escreve, pode-se dizer que não só sou um escritor como, ainda por cima, um escritor publicado!

O Coletivo Verbal é um coletivo de escritores que se formou através das turmas de escrita criativa desenvolvidas pela Verbal Assessoria Linguística. Participei de três dessas turmas antes que a pandemia viesse. Mesmo não estando mais na ativa, fui convidado para fazer parte deste pequeno projeto: escrever um conto de 5 páginas A5, fonte Arial corpo 12, espaçamento duplo utilizando o ano de 2020 como pano de fundo.

À primeira vista, até parece que temática não falta para desenvolver 2020 mas, pensando bem, o ano de 2020, pelo menos o meu ano de 2020 pode ser resumido em dois assuntos recorrentes: pandemia e Bolsonaro. Não fossem 2, poder-se-ia até dizer que 2020 foi um ano monotemático. Então, como tenho  experiência acumulada de 7 meses de um pseudo isolamento social em que o único assunto à mesa era falar mal de Bolsonaro e perguntar quando essa bosta de pandemia haveria de terminar, escrever um conto que juntasse essas duas temáticas não foi nada difícil. Na verdade, foi muito mais fácil do que eu imaginava num primeiro momento, a ponto de ter que ter passado a faca no texto com a falta de piedade que Stephen King cita em seu livro Sobre a escrita. Mesmo assim, a revisão final estava tão estufada que não cabia nem mais um peido. Uma vírgula a mais e a formatação iria para o espaço e eu teria que me por à caça de mais palavras a serem exterminadas

Meu conto se chama. O pesadelo de Márcio, o que tem muito a ver com esse ano miserável. Márcio e Andréa são 2 personagens que surgiram nas oficinas da Verbal e que até ganharam alguns contos no blog. Quem representam, vou deixar que vocês imaginem. Passa-se num passado não tão distante assim, mas em que todos os absurdos hiperbólicos que passamos a viver a partir de 2016 e que culminaram na presidência tresloucada de Jair Messias Bolsonaro pareciam tão improváveis quanto a possibilidade que estejamos imersos de verdade num pesadelo coletivo, um desses sonhos vívidos do qual logo despertaremos para que a vida siga seu curso normal.

O ano em que fizemos contato foi produzido pela Verbal Assessoria Linguística em parceria com a Editora Avá e pode ser adquirido na loja virtual da editora. Também dá para comprar direto com o Whatsapp da Lorena Santos, organizadora da coletânea: (61)981437321

Ficha Técnica: 


 

 

  • Título: O ano em que fizemos contato 
  • Autoria: Coletivo Verbal 
  • Gêneros: Literatura,Crônicas, Contos 
  • ISBN 978-65-86721-19-5 
  • Formato: 14x21 
  • Páginas: 83

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