Aproveita enquanto ainda pode

 

Liguei para mamãe. Não ligo para ela com a frequência com que deveria. Desde 2018 que não me sinto mais acolhido em família, embora ela, diferentemente de papai e do meu irmão, não seja uma bolsonarista raiz. Certamente ela votou em Bolsonaro no segundo turno de 2018 e provavelmente repetiu a opção esse ano, mas em verdade, ela o fez mais por um antipetismo latente do que por um fascismo consciente. Ideologicamente, talvez ela esteja mais próxima do Partido Novo - ainda que seja espantoso que alguém que venha de uma família com forte tradição no funcionalismo público, civil ou militar, simpatize com um ideal em que o funcionalismo público esteja reduzido ao mínimo necessário para que o Estado não entre em colapso.

Quando perguntado sobre o fim do ano, disse-lhe que iria à posse do Lula e que a família inteira iria, inclusive o cachorro com camiseta vermelha.

- Aproveita enquanto ainda pode.

Uma praga largada assim no ar, como se o governo do Lula fosse ser um desastre. Em primeiro lugar, desgraça maior do que o vivemos nesses últimos 6 anos é impossível. Qualquer governo minimamente funcional já será infinitamente melhor do que o governo Bolsonaro, cuja única ação frente a problemas é arranhar um culpado para botar a culpa ("A culpa é minha, eu boto ela em quem eu quiser"). Em segundo, eu me lembro dos governos do PT. Lembro-me de como, como funcionário público, me senti valorizado em todos os aspectos, inclusive (mas não exclusivamente) financeiramente. É certo que ganhos passados não são garantias de rendimentos futuros, mas a nostalgia de um tempo em que a gente sentia que caminhava para frente não dá margem para pessimismo.

Como diz o Fágner Torres do Lado B do Rio, Lula é provavelmente o maior político do século XXI em todo o mundo. Se esse não é um, motivo para ter esperança, não sei o que será.

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